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10/09/2013

Kuroi no sekai - capítulo V

Suplantando os progenitores

            Nos dias seguintes, Pakkun não apareceu na escola. A versão “oficial” é que após um treino com Ken autorizado pela direcção e monotorizado pelo professor Armstrung, Sadomaru teve uma pequena entorse e foi levado por Ken para casa, onde repousa. No entanto, Ken sabia a verdade. Pakkun disse-lhe que demoraria uma semana a preparar um portal que o levaria ao local do próximo treino, o último antes de ir para o “Hall da Existência” para o seu treino definitivo com os Porteiros.
            Bastante excitado com os acontecimentos, Ken retoma os seus treinos bi-diários – todos os dias antes do pequeno-almoço e assim que chega da escola, Ken pratica as suas técnicas, incluíndo a Midadzuki – com os seus pais. Para além disso, Ken faz um teino suplementar, a pedido de Pakkun. Todos os dias antes de se deitar, Ken deve adoptar uma posição de meditação e concentrar-se para conseguir sentir a energia espíritual de cada pessoa (segundo Pakkun, esta habilidade será depois completamente natural para Ken, e permitir-lhe-á identificar a presença de inimigos).
            Sexta-feira, Ken e seus pais estão a caminho da escola para um combate de exibição, para a abertura dos Jogos Distritais de Hokkaido, onde a cidade de Obihiro é representada pelos 3 membros da família Taiyou. Após os combates de defesa dos títulos nacionais feminino e masculino (Ken não participou no último Campeonato), Ken terá dois combates de exibição para o público... Contra os próprios pais
            - Ken-chan, espero que dês o teu melhor no combate com o teu pai – diz Mrs. Tayou.
            - Oh querida, isso é batota. Estás a motivá-lo e a mim, nada! – reclama Mr. Tayou.
            - Mas tu és o campeão nacional sénior, Nekozito. O Ken ficou de fora do último Campeonato porque tinha de estudar. Não sabemos se o treino que ele tem feito nesta semana é o suficiente.
            - Não duvido da qualidade do nosso Ken. Mas – virando-se para o filho – não penses que vou facilitar! Vais ter de dar o teu máximo para teres uma hipótese.
            É neste clima de descontração que a família Tayou chega ao ginásio da escola. Ken vai equipar-se e vê nas bancadas Hana e Kotaru. Hana acena-lhe com um sorriso, o que provoca um nó no estomago de Ken, sem que o próprio perceba porquê.
            Já equipado para os combates de exibição (primeiro fará um de kendo contra o pai; e no final um de artes marciais com a mãe) Ken chega ao recinto e ouve uma voz por detrás dele:
            - Eu até te desejava sorte, Kenshin, mas sei que não vais precisar dela.
            - Pakkun, tu sabes que mesmo estando mais forte, não é certo que venca os meus pais. Além disso, não é da minha natureza ter confiança a mais.
            - Ah, estou a ver que praticaste bastante a técnica da energia. Não esperava que a dominasses tão depressa, mas por outro lado, estou feliz por ti.
            É nesse momento que o Presidente da Câmara chama Ken ao ringue para o primeiro combate.
            - E aqui temos uma rara ocasião, senhoras e senhores! O campeão nacional sénior, Tayou Kenji, vai enfrentar nada mais nada menos que o seu próprio filho! Será que a experiência de Kenji o vai ajudar, ou veremos o aluno a suplantar o mestre? Ao meu sinal… - tanto Ken como Mr. Tayou já estavam em posição - … COMECEM!
            Mr. Tayou ataca com a Hana no Mai, mas Ken esquiva-se com uma aparente facilidade – para espanto geral do público – e consegue um contra-ataque que deixa o pai em dificuldades. Ken toma conta do combate e consegue desferir vários golpes, sem que atinja Mr. Tayou ou se desvia ou os bloqueia.
            - Vejo que andaste a treinar bastante, Chibi-kun. Mesmo assim, estares a atacar sem parar não te vai ajudar. Sabes que o meu estilo de combate é de ataque contínuo e fazes bem em parar-me, mas eu consigo ver os teus pontos fracos, e isso vai ser a tua derrota – afirma Mr. Tayou.
            - Ah sim? Sabes bem que eu tenho mais resistência que tu, oiajii – riposta Ken.
            Mr. Tayou começa a avançar e a ganhar terreno, alternando o seu ataque entre as pernas e a cabeça de Ken, mas o jovem consegue sempre bloquear as investidas do pai.
            - Ah e tal, “pontos fracos”… Lembras-te do que me ensinaste? “Não é a aprender técnicas novas que melhoramos, mas sim a corrigir as nossas falhas e a melhorar o nosso arsenal!” E eu ando a melhorar a única técnica que tu não dominas! Eu vou ganhar isto! – diz Ken.
            - Se tu ganhares, ainda mais com essa técnica, eu pago o jantar para ti e para os teus amigos! Eu também sei como me defender a esse ataque – afirma Mr. Tayou.
            Os dois adversários avançam em passo rápido para o centro do ringue, de modo a colidirem. Após um pequeno estrondo (provocado pelo bater das espadas de madeira), Ken apoia-se num joelho… mas Mr.Tayou cai no chão! Ken venceu!
            - I-I-Incrível, senhoras e senhores! Vimos aqui um combate espetacular, e o jovem Tayou Ken vence o seu pai! – anuncia o Presidente da Câmara. – As festividades vão continuar no recinto da escola e daqui a cerca de 4 horas vai começar a outra grande atração do dia: um novo combate, mas desta vez o jovem Ken vai enfrentar a mãe – e campeã continental – Tayou Makoto, num combate de artes marciais! Será que vamos ter uma repetição do que vimos agora?
            Ken vai ter com o pai e, juntamente com Pakkun e Mrs. Tayou, ajudam-no a levantar-se.
            - Admito que não estava nada à espera, Chibi-kun. Mas algum dia teria que acontecer, não é? Parabéns – congratula Mr. Tayou.
            - Eu sempre tive confiança no Kenshin. Mas deixe-me dizer que você também é bastante bom! – exclama Pakkun.
            - O meu Nekozito não ganhou o Campeonato Mundial porque teve de abandonar a prova antes da final. Ele era o favorito à vitória, mas pronto. – explica Mrs. Tayou.
            É neste clima que a família Tayou, acompanhada por Pakkun, segue para fora do ginásio, onde decorre a habitual festa do dia de inauguração dos Jogos.
            - Então mas não disseste que ias preparar… aquilo? – pergunta Ken em voz baixa.
            - Sim, sim. Estará pronto no final da semana. Mas achei uma boa ideia vir cá ver se progrediste ou não. Venceste o teu pai e ainda estás cheio de energia. Vais precisar dela para o combate com a tua mãe – explica Pakkun.
            - Ya… Pessoalmente, nem sei como vou conseguir vencê-la. Ela mostra uma calma tão grande quando treinamos. Nunca consegui sequer tocar-lhe. Ao meu pai já tive perto, e hoje foi uma espécie de confirmação, mas a minha mãe é um nível diferente – diz Ken, meio triste, meio exitado.
            À hora de almoço, Ken e Pakkun vão ter com Hana e Kotaru e os quatro comem debaixo de uma árvore.
            - Vejo que já estás melhor, Sadomaru. Que raio de ideia foi a tua ao desafiar aqui o Ken-Ya-Kikku? – pergunta Kotaru.
            - Eu era o campeão da minha escola e queria certificar-me que o Kenshin era tão bom como se dizia – explicou Pakkun.
            - Mesmo assim, para teres acabado com uma entorse… Deve ter sido um combate e pêras… Gostava de ter visto – desabafa Kotaru.
            - K-ken-kun, tenho aqui uma coisa para ti – Hana estende uma pequena caixa – Fiz estes bolos sozinha. Se sairam bem, devem dar-te forças para o resto do dia.
            - Podias era ter feito para todos, mana – replica Kotaru.
            - Deixa estar, eu divido contigo, Koto-nii. Queres também, Pakkun? – pergunta Ken.
            - Não, obrigado. Já comi bastante.
            Ao meter o bolo na boca, Ken visualiza, por um milésimo, Hana a dar-lhe a comida à boca, como se de um casal se tratasse. «Que se passa comigo?», questiona-se Ken. Um sentimento de recuperação instala-se em Ken, como se tivesse acabado de acordar de uma sesta. Estava completamente recuperado do cansaço do combate com o pai.
            - Uau, estão mesmo bons, Hana-chan! Deliciosos mesmo! – Ken diz isto em tom bastante agradável, de modo a não parecer surpreendido demais.
            Após o almoço, os quatro amigos ficam a relaxar por debaixo da grande árvore. Ken descansa confortávelmente e Hana olha para ele de vez em quando com um olhar envergonhado. Notando o ambiente, Pakkun vira-se para Kotaru.
            - Kotaru-san, podes vir comigo? Eu vi ali uma coisa que te deverá interessar: peças de moto.
            - A sério? Vou já – responde Kotaru. – Até já, mana. Ke… Olha, este já adormeceu!
            Já sozinhos, Ken retoma a consciência. Olha ao redor mas só vê Hana. Tem mais um nó inexplicável no estomago, mas arranja coragem (como é que foi tão difícil?) e pergunta:
            - Estamos sozinhos, é? Bem, suponho que não haja problemas. Hana-chan, já viste bem a árvore? É uma Sakura (flor de cerejeira). Não é bonita?
            - S-sim, s-s-suponho que sim – responde Hana, com algum tremor na voz.
            Ken achou estranho. Era normal Hana falar daquela maneira nervosinha, mas parecia haver algum medo na voz dela.
            - Passou-se alguma coisa, Hana-chan? Estás com uma cara… - pergunta Ken preocupado.
            - Oh, não. Não é nada. Eu estou bem. Só um bocado cansada – responde a amiga.
            - Encosta a cabeça aqui ao pé de mim. Descansa um bocado – propõe Ken. A frase saiu tão depressa, sem que Ken se tivesse apercebido do que disse.
            Ainda assim, Hana encosta-se a Ken (com a cara completamente vermelha) e fecha os olhos. Talvez pela primeira vez desde que se conhecem, Ken olhou para Hana e reparou na beleza da amiga. Era, de facto uma rapariga muito bonita. «Mas o que é que eu estou a pensar? Ela é como uma irmã para mim!», pensa Ken. Mas o pensamento perde-se pois Ken volta a adormecer.
            Ken acorda. Já estavam de volta Kotaru e Pakkun. Pakkun estava em cima da árvore a contemplar as flores de cerejeira; Kotaru e Hana estavam a falar sobre alguma coisa, mas assim que Ken se levantou, calaram-se. Pakkun deixa-se cair da árvore e aterra ao lado de Ken.
            - Não te preocupes. Não era nada de mal que eles estavam a falar. Está é quase na hora do teu segundo combate. É melhor irmos andando, não?
            - Oh! Sim, claro! Koto-nii, Hana-chan, eu vou andando, está bem? – pergunta Ken aos irmãos, que acenam afirmativamente.
            Já dentro do pavilhão, os quatro amigos voltam a encontrar os pais de Ken.
            - Então, Ken-chan? Pronto? Espero que esse teu treino tenha valido a pena – avisa Mrs. Tayou.
            - Daijobu, oka-san (não há problema, mãe). Vais ver! É desta que te venço! – exclama Ken, confiante.
            - Assim é que é! Quero o teu melhor, filho. E depois disto vamos todos jantar, paga o teu pai. Kotaru-san, Hana-san, avisem também os vossos pais – diz Mrs. Tayou.
            - Eh! Pensava que era só a eles! – reclama Mr. Tayou.
            - É melhor que não reclames muito, querido. É castigo por teres perdido. E é bom que prepares a carteira! Sabes o quão comilão é Mr. Takeouchi – responde Mrs. Tayou, com um olhar ameaçador.
            - Aquele olhar, por muito aterrador que seja, foi a razão pela qual me apaixonei por ela – sussurra Mr. Tayou a Ken, já depois da sua esposa se ter encaminhado para o ringue.
            Ken vai para o ringue e contempla a sua mãe. Mrs. Tayou, apesar de já não ser propriamente nova, ainda tinha o aspeto de uma rapariga de 20 anos, com um corpo magro e com uma altura um pouco acima da média para as mulheres.
            - Ken-kun, estás a pensar em alguma coisa em especial ou vais deixar-me dar o primeiro golpe? Sabes que se o fizeres, dificilmente te levantas – afirma Mrs. Tayou - «Tenho de ter alguma cautela. Afinal ele derrota o pai com uma facilidade incrivel...»
            - Senhoras e Senhores!!! – o Presidente da Camara estava de novo a anunciar o combate, mas Ken nem estava a tomar atenção. Estava mais preocupado a desenhar uma estratégia para vencer a sua mãe. A concentração era tal que Ken nem ouviu a campainha a tocar, assinalando o inicio do combate.
            Não se mexendo e surpreendida com a pose meio relaxada do filho, Mrs. Taiyou acaba por se mexer para um primeiro ataque. Ela avança decidida em direção ao filho que para além de não se mexer, estava de olhos fechados! «Não sei no que anda pela tua cabeça, Ken-kun, mas assim não vais a lado nenhum». A mãe de Ken prepara-se para tocar com a palma da mão no filho quando do nada... Cai ao chão!
            O público em geral exclama de surpresa, e apenas Pakkun se mostra com uma cara normal, apesar de mostrar alguma surpresa. Ken continuava de olhos fechados, mas tinha-se mexido com uma velocidade incrivel e aplicado um golpe nas costas da mãe, provocando a queda. Mrs. Taiyou levanta-se e olha com orgulho para o filho.
            - Estava a ver que nunca mais aprendias a concentrar-te no que te rodeia – afirma Mrs. Taiyou, e Ken repara que a mãe olhou de relance para Pakkun – Mas... Isso não vai ser suficiente. É bom que abras os olhos pois agora vais ver-me a lutar a sério!!
            Mr. Taiyou olha surpreendido e começa a tremer.
            - Oh meu Deus... Isto vai ser incrivel!
            - O que se passa, Kenji-san? – Pergunta Pakkun.
            - Observa bem, Pachiru. Vais ver o porquê de a minha mulher ser apelidada de “Mugon no satsujin-sha”, a assassina do silêncio.
            Ken abre os olhos e observa atentamente os movimentos da mãe, pondo-se lentamente numa posição mais defensiva, de modo a não deixar nenhuma aberta.

            - Estou mais que pronto, kaa-san. É só dares o sinal!